quinta-feira, 8 de julho de 2010

HOMO PLASTICUS

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Homo Plasticus é como chamo a plastificação do ser humano.
A artificialidade para a qual estamos caminhando.
O ser humano está se tornando de plástico com uma artificialidade cada vez maior.

O ufanismo da copa do mundo é uma artificialidade de um sentimentos de grupo, de aldeia, de preservação de outras eras... o sentimento de familia extendida do clã, colocado em lugar errado.

No corpo cada vez mais plástico: obturação de polimeros plásticos, lentes de contato gelatinosas, esmalte, unhas, enxertos osseos, silicones, shampoos com silicone, sutiãs de silicone, mega-hair de mentira...

Cirurgias plásticas onde seres humanos se transformam em ideais artificiais, lisos, sem rugas, sem expressão, sem imperfeições, não sujeitos a Lei da Gravidade ou do tempo, sem nada de organico, humano ou natural. Nem falando do Photoshop nas fotos de revistas.

A moda agora, vinda de famosa modelo Tcheca, é plástica para retirar o umbigo! Barriga lisa.
Seres humanos sem umbigos, sem pêlos... andróides inumanos.
Um exército de bonecos Barbies e Kens...

No Tantra, os simbolos ou Yantras, sempre tiveram o triangulos invertido como o feminino e o triangulo com o vertice pra cima, como masculino. Simboliza o pênis e seus pêlos que apontam ao umbigo, energia que sobe, ou o pubis, a vagina feminina com seus pêlos, que descem.


Durante milhões de anos foi assim. Entretanto, com a invenção da roupa de banho pelos ingleses puritanos da Era Vitoriana (banho com roupas?!),as formas naturais femininas foram mudando.

Com o surgimento do bikini o natural triangulo se transformou num retangulo... surgiu o bikini "asa Delta" e se transformou numa faixa, chamado por uns de bigode de hitler... com os bikinis mais cavados, se transforma num quadrado, numa ínfima penugem, até a moda do totalmente depilada.

O Tantra, a Espiritualidade que prega a Iluminação também pelo sexo, sempre defendeu que as mulheres devem deixar os pêlos crescerem de modo natural. Por vários motivos, tanto por pêlos protegerem do atrito, por manterem os odores, os feromônios que atraem o parceiro do sexo oposto, pela estética de um corpo natural, pela maciez do tato, do contato, etc...

O homem durante bilhões de anos teve os pêlos como percepção de que aquela mulher é adulta e apta para o sexo, enquanto que a depilação era vista como sinal de imaturidade sexual. É uma atração atávica, ancestral, instintiva e natural.



Os homens tem tambem sua persona escravizada à moda... o homem se transforma num ser plastico, cyborg, robot..."o barbear perfeito".
A mulher e o homem se transformam em manequins de loja, artificiais e rasos. Homens se depilando, sem barba, imbérbes, impúberes, sem cabelos compridos, bigode ou costeletas... sem pêlos púbicos!

Nem raizes, nem asas...

Humanos que são topiárias... arvores que se cortam como perfeitos cubos artificiais. Cubo, retas... sendo que na natureza só há curvas!

Homo Urbanus, sem pêlos, sem expressão (botoxados), sem odores, sem alma... com a incapacidade de pisar descalço no mato, na grama, na mata... com medo de insetos, animais, ou qualquer coisa viva.
Homem do concreto, do plástico, do nylon... inimigo de Gaya.


Sem o instinto de um Homem Natural, do homem peludo, João de Ferro do maravilhoso livro de Robert Bly... e mulheres sem vida, sem cor, que já não "Correm com Lobos" como as mulheres de Clarissa Pinkolas Estes...

Raros são:

Shivas, Homens profundos, com raizes na lama e na escuridão... pêlos, cabelos longos, costeletas e barbas;










Shaktis, fêmeas que crescem no vento e nas tempestades, como os delicados bonsais...



Artificialidade sem contato nenhum com a natureza que não seja através de uma revista ou de uma tela, seres que não tem sensibilidade nos pés para aguentar uma areia quente, um riacho gelado, um orvalho na grama, uma pedra áspera...

Como dizia um chefe indigena norte-americano: homem branco que anda com os pés cobertos de duras peles, até os pés cheirarem a peixe podre.
Homo Urbanus: Perda total de contato com a natureza e com seu lado orgânico, crendo que se destruirem o planeta, respirarão fumaça e beberão óleo diesel..


Quando fiz minha tese de Arquitetura, um renomado professor da Universidade perguntou:
- Qual mundo gostaria de viver? De Flash Gordon ou Conan?
Fui o primeiro, pro espanto dele, a responder: num mundo mitológico de Conan.
Hoje responderia: no mundo de Avatar.

Queremos ser seres perfeitos, sem rugas, sem pelos, sem cabelo desalinhado, sem defeitos, sem cores de pele, sem odores humanos, cheiro de terra, contato com lama nutritiva, sentimentos, desejos, sonhos... Manequins vivos, puppets direcionados ao consumismo.

"Adoramos a perfeição,
porque não a podemos ter;
repugná-la-íamos, se a tivéssemos.
O perfeito é o desumano,
porque o humano é imperfeito."
(Fernando Pessoa)
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domingo, 23 de maio de 2010

Tecendo...

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Oh, Musa,
que não usa ao redor de sua fronte
a folha perecível de Helicon,
mas nos coros aos sons alegres do céu
mostra seu diadema de estrelas,
oh, sopre fogo celestial em meu peito,
enobreça este meu canto e perdoe-me
se eu tecer a verdade com ficção.
...
— Torquato Tasso, Gerusalemme Liberata
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